A desenvoltura neoconcreta
Em 1957, como se sabe,
Weissmann reunia-se ao grupo neoconcreto, no
qual encontrava interlocutores privilegiados
para suas indagações em torno daquele vazio
ativo, e uma prolífica via alternativa ao
cientificismo dominante no movimento de São
Paulo.(...)
Mas o acontecimento decisivo desses anos é que
Weissmann principiava a empregar como elemento
autônomo o plano que servira de matriz aos módulos
vazados; surgia assim uma variedade admirável
de trabalhos a partir de uma mesma matriz originária
– a chapa de ferro com o círculo vazado ao centro,
na qual só remanesciam as bordas exíguas. Com
esse procedimento, o artista assinalava a autonomia
e o caráter singular daquele evento formal,
sem com isso negar a universalidade do módulo
construtivo, sua infinita adaptabilidade ao
espaço; a chapa vazada, de fato, mostrava todas
as suas potencialidades quando era desafivelada
da lógica da seriação. Ao mesmo tempo, como
aquela consideração particularizada do módulo
desfazia a malha de efeitos ópticos que sua
repetição propiciava, Weissmann acabava pontuando
seu distanciamento das pesquisas cinéticas,
um importante filão da tradição construtiva
que em geral cerrava fileiras com os pressupostos
racionalistas da tradição concreta internacional.
O “módulo neoconcreto” acompanharia toda a produção
subseqüente de Weissmann, como revelam, por
exemplo, as séries de esculturas conhecidas
pelos títulos genéricos de 'Espaço circular
em cubo virtual', 'Três pontos' (uma alusão
ao equilíbrio obtido em posição instável) ou
'Terra'. Mas, antes que fosse possível chegar
ao dinamismo barroco dessas obras, que dão a
impressão de girar em torno de um eixo imaginário,
o artista teve de submeter o módulo a infinitas
torções. Sempre estimulado pela idéia de constituir
uma profundidade que se deixasse envolver pelo
espaço circundante, e recorrendo para tanto
apenas à operação de deslocar e desdobrar os
planos, o escultor trouxe à tona toda uma constelação
de módulos neoconcretos. Estes podiam ser fletidos
em ângulos diversos, prescindir ou manter o
círculo em seu “interior”, posicionar-se ortogonalmente
no solo ou em complexos arranjos diagonais.
(...)
©Sônia Salzstein - 'Franz Weissmann' - Cosac
& Naif Edições - 2001
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